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quarta-feira, 18 de julho de 2018

eu e ela

ela é como fogo, eu como gelo. eu e ela dariamos um bom equilíbrio, mas temos dificuldade em medir as temperaturas, hora somos ela demais, hora somos eu demais. eu e ela somos picos intensos, como pedaços de gelos inseguros ou faíscas de fogo inconsequentes. eu e ela, se pensar bem, somos até parecidas demais. sentimos o medo da vida, sentimos a necessidade do apego, a vontade do desconstruir, do evoluir. eu e ela somos tão parecidas até na hipocrisia, na mentira. no tesão diário que cresce, nas fantasias mais sujas, nos desesperos e desejos. eu e ela tem vezes que eu nem sei. tem vezes que parece algo necessário nessa parte da vida, outras vezes parece que é pra sempre. eu e ela ninguém mais aguenta, chora, xinga, briga, bate, morde, alisa, beija, fode e ama. mas ninguém sabe do nosso fundo. eu e ela sabemos de todos os motivos, dores e abrigos. é tempestade que parece sem fim, mas concluí que eu e ela sem arder, não íamos nunca nem nos conhecer.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Pra sempre

Quando dizemos pra sempre para alguém, nos esquecemos que um pra sempre pode durar um ano, uma semana, ou um dia. E que pena. A única coisa que dura pra sempre é o ciclo involuntário da vida. Que inclusive, faz com que nos transformamos constantemente, em algo desejável ou algo que passamos uma vida toda afirmando nunca nos tornar. Alguns seres conseguem se manter por mais tempo em certas situações, outros nem tanto. Andei observando alguns animais que passam toda sua vida com o mesmo corpo físico, sem contar claro, as mudanças que vem com a velhice. Já outros trocam de corpos, carcaças, atividades e cores ao longo da vida. Andei observando alguns amigos meus que conheço a anos e nunca mudaram seu jeito de se vestir, estão em um emprego ou relacionamento à uns bons anos. Já outras pessoas, como eu por exemplo, tem um pouco de dificuldade de se manter em um mesmo lugar. Em todos os sentidos. Bem, diante destas observações, me ocorreu que a diferença entre nós humanos e os animais, é que eles parecem (não sou especialista em biologia, por isso, parece) conviver bem com esse fato de mudanças corriqueiras ou não. Eles sabem por instinto de seus papeis por aqui. Nós não, nos cobramos o tempo todo o que devemos ou poderíamos ser. Cobramos o pra sempre dito e nos surpreendemos ao ver uma mudança acontecer, mesmo que com nós mesmos, com a dos outros nem preciso dizer. Às vezes eu sofro por lembrar de um pra sempre dito, mesmo que eu não o deseje mais. E mesmo tendo plena consciência que as voltas do mundo são necessárias, de vez em quando parece tão vazio lembrar do que fizemos questão com todas as forças e hoje é só nada. Eu tenho receio do que desejo hoje, por isso nunca acredito no que me falam, não cem por cento. Por mais que seja a pessoa que mais confio entre minhas convivências. Não confio cem por cento nem no que eu quero, que dirá nos desejos alheios neste mundo tão mutável. As promessas se perdem no próprio tempo em que são prometidas. Amanhã um novo acontecimento surge e como lidar com aquela promessa dita? Como manter? Eu não sei. Já tive tantas certezas diferentes, tão absolutas. Dizem que sofro com isso por ser geminiana. Apesar de acreditar fielmente em astrologia, digo que sofro com isso por ser humana. Desculpe-me pela bagunça, hoje a única certeza que tenho é que sou intensa e inconstante, tudo acontece muito rápido. E sofro. Mas tenho tentado ser responsável, é o que me resta.

domingo, 22 de maio de 2016

Carta

Os dias se passavam. Todos os dias que deixamos apenas passar. Sem prestar atenção no que realmente importa, no que escondemos no fundo do coração, atrás da porta, de baixo do colchão. De repente algo faz a gente parar a corrida diária, aquela desenfreada e desesperada. Algo que paralisa, demora pra descer na garganta, a incerteza é tanta, tanta. E quando cai no coração parece que vai desfalecer. Eu sei, dói. Estamos todos apertados, entalados, parece que tudo vai uma hora desaparecer.
Aí então vem um suspiro, ainda não é alívio, mas um despertar. Você começa perceber tudo ao seu redor, o que tem feito, como estamos a andar, a nos tratar. Todos a sua volta também estão sentindo, maninho. Estamos todos no mesmo ninho. É claro que o seu acordar é muito maior, mas também sua força. Que se por um acaso você sentir que ela possa estar se esgotando, segure na nossa mão e isso será sempre seu chão. Sua fortaleza, sua riqueza.
Tem horas que bate uma angústia, a gente se sente no escuro e se pergunta por quê? Mas calma. Respira, fecha os olhos e sinta no fundo da sua alma. Não se cobre tanto, o tempo mostra o que lá no fundo está guardado. Todas as respostas. Nesse escuro há mais luzes pra se ascender do que podemos imaginar, do que podemos crer. Você já esta crescendo, florescendo. Aconteça o que acontecer, aqui é seu lugar, nunca vamos te deixar. Nosso amor é maior do que qualquer falar. Está na hora de deixar todas as tensões, de relaxar. De acreditar em suas asas. E não importa o que acontecer, por onde andar, junto de nós sempre será sua casa.
Te amo.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

All looks

Quanto mais o tempo passa mais eu tenho certeza de que certas coisas são insubstituíveis. Elas passam, dizem que nada é pra sempre. Eu não sei se acredito muito nisto, prefiro acreditar que existe o "pra sempre" sim, mas há transformações. Aquele carinho, aquele jeito de olhar, aquele mergulho no dia de sol, aquela risada chapada, aquele choro desesperado. Eles nunca vão deixar de existir, estão lá em algum lugar perdidos no tempo, mas existem e fazem parte de nossas vidas, da construção de nossa existência. E o que seria de nossa existência sem a nostalgia? Sentir aquela saudade doída que uma hora se transforma em alegria, por saber que aquele momento existiu e passou para que que novos pudessem acontecer. A nostalgia é em alguns momentos quase que uma crise de identidade em mim. Quando estou concentrada no presente e do nada vejo algo que me lembra o passado, e o quanto foi importante, urgente, latente. Vem aquela busca repentina por saber aonde foi que a mente, o corpo deixou de sentir aquilo. Aonde foi que a vida mudou e a certeza de que nada que virá daqui pra frente vai poder ser melhor ou pior do que o que passou. Nada substituirá aquela presença, aquelas ações, mas elas não podem mais estar aqui. Desespero seguido de aceitação. Tantas coisas boas e também insubstituíveis nos acontece agora, é tão importante, de um êxtase gigante essas novas descobertas e sensações. Todas essas relações. Da mesma forma que um dia as outras já foram. E são, mas no tempo delas. Tanta vida que já foi, tanto mais que ainda virá. Pra quê se corroer, se permita doer, se permita sangrar. Me permito sangrar essas saudades até virarem tatuagens, traços de uma arte que forma minha alma, tão cheia de portas ainda trancadas, portas abertas, portas meio indecisas. A casa de nosso próprio ser, que resgata, esquece, indaga, permanece e quer mutações o tempo todo. Tão triste, tão bonito.  Quanto mais o tempo passa vou me tornando mais consciente do que me faz bem, minimalista em algumas ações, explosiva em outras (que sejam explosões de felicidade). Não fiquemos arrasados, tem tudo isso ainda pra viver, algumas condições terão que ser estabelecidas para nossas crenças não nos quebrar no meio. E o sorriso posterior sempre irá fazer valer a pena. O amor explica tudo.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

escritos de janela

Me dei conta do quanto estou aprendendo a fluir. É, fluir. Desligar um pouco das cobranças de querer ser e só ser porque é natural. Porque dá vontade. Um dia parei no meio de tudo quando o sol bateu no meu rosto, senti aqueles raios clareando muito do que estava turvo em minha mente. Percebi que fluir é expandir a sensibilidade do que faz bem ou mal pra alma, a consciência da interação de um alimento no corpo. Sólido, líquido, luz! Fluir é assumir do que gosta e dançar esses gostos do jeito que melhor sair. Deixar sair tudo que for necessário. Conseguir medir o que pode ficar aqui dentro e o que precisa, precisa mesmo, expandir.
Fluir comigo, sendo uma. Fluir pra fora, sendo mais. Ser alguém a mais com outros, sem querer exigir que eles deixem os tantos outros que todos nós temos a possibilidade de ser. É quando toda a força que a gente faz pra tentar, deixa de pesar tanto pela satisfação de conseguir.
É acreditar nas próprias viagens. Viajo tanto, longe, estando apenas em uma estrada. Mas sem pressa, cada uma se realizará no seu tempo e algumas, as vezes, sinto que nem me dei conta ainda que já vem se manifestando. Mas é isso, é do nada sentir propriedade de um momento por saber que levantei, respirei fundo e flui pra chegar até aqui. Não sei se os caminhos escolhidos são os melhores, com certeza não, mas se venho sentindo paz, a busca pela evolução é consequência. Eu não quero mais parar.
A vida está sorrindo, o ônibus está seguindo e eu olho pra esse mar à minha frente... Ô mar. É como estar em casa, finalmente me sentir aqui dentro, sabe como é?

"I live by the ocean
and during the night
I dive into it
down to the bottom
underneath all currents
and drop my anchor
this is where I'm staying
this is my home"
bjork

É lindo demais. Por vezes ainda doloroso, mas são só os nós muito apertados que estão se afrouxando.
Não é uma questão só de tentar, é de se deixar, é de fluir.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

fotografia da lua

Minhas fotografias. Eu, estando à frente ou atrás da câmera. São meu desabafo, minhas expressões jogadas nesta multidão estremecida, meu olhar à pureza de cada pequeno acontecimento ou gesto, que estão minguados por véus psicológicos.
A pureza até do escuro, da sombra onde nos escondemos, nos vestimos, montamos e despimos para ser quem queremos ser.
Eu me retorço e pego-os retorcendo seus corpos em busca de prazer, alguns chamam de paz. E quando não consigo distinguir o que já é bom ou ruim dentro da dor, eu estampo e a imagem que sai me acalma. Mesmo que não seja nítido o acontecido, a imagem se fez assim, e assim que ela é. Como a calma e o egocentrismo da lua, ninguém precisa dizer o que ela é e o que faz. Ela apenas esta lá, fazendo seu papel no equilíbrio da natureza, e o tempo a faz gloriosa pra nós sempre que escurece.
Minhas fotografias, como todas que existem ficarão eternizando momentos ali, sempre ali. Reparamos e a sentimos quando nos convém.
A crise nunca vai passar? Não sei, mas pelo menos é bela. Não que minhas felicidades não gerem beleza. Geram também. Mas costumamos apreciar mais o que vem da sombra, é mais intenso. Bem, eu que me retorça com as minhas angustias.

domingo, 28 de dezembro de 2014

monstros

Meus joelhos doem. Eles se recusam quando tento andar, protestam o caminho que tenho feito. Meus humores andam me assustando cada vez mais, tem dias que acordo com todos os ânimos e de repente, diante de qualquer olhar distraído eu travo. O pânico me prende dentro de um casulo instantâneo que crio e o pior é não conseguir definir o sentido disto, aliás, tudo perde sentido, fundamento e objetivo. A ignorância alheia me destrói por dentro, minha intolerância cresce diante de todos os defeitos, inclusive os meus, inclusive ser intolerante.
Alguém poderia me dizer como faz pra soltar as tensões, meus nervos e músculos duros me dão choque o tempo todo. Mas ninguém pode dizer, ninguém esta ciente da minha situação, a estampa que eles enchergam é da garota anti social, que há pouco estava sorridente e simpática. Então, só aquela menina estranha.
Eu estou insatisfeita, digo "estou" porque não quero ser, tenho esperança de só estar por enquanto. Mas esta insatisfação vem de tanto tempo que eu posso me enganar a vida toda, ou até encontrar alguma imperfeição que me satisfaça.
Fico tentando lutar com os monstros que habitam meu interior mas não tenho coragem de mata-los, depois de um tempo de convivência acho que criei algum prazer nessa relação para amenizar as torturas e camuflar os monstros, contra eu mesma, cultivando-os aqui dentro, idiotamente.
Meu desejo é não existir, nem morrer nem viver, apenas não ter existido no começo de tudo, ou do nada, um desejo aparentemente impossível mas ainda não parei de pensar nisto. Acreditar que toda existência tem um motivo e me cobrar o tempo todo o meu é o que mais me cansa.
Preciso de uma pílula de motivação pros meus joelhos.